Achei este texto tão bem construído, mas tão bem construído, que para não chorar com o degredo do país, achei melhor que ele fosse encarado com humor. Leia, e delicie-se.
Numa altura em que precisamos de cérebros para ajudarem o país a sair do buraco, a TVI juntou um conjunto de acéfalos que dificilmente conseguiriam sair juntos de um elevador. Mesmo com a porta aberta. Júlia Pinheiro, ex-libris do "apresentadorismo" nacional, afirma que "a Casa é o retrato do país". Pensei que estivesse a falar da sua própria casa. A preocupação começou quando percebi que se estava a referir à casa onde a TVI juntou um conjunto de pessoas que conseguiriam transformar em dez minutos o campus da Universidade de Cambridge no Jardim zoológico de Lisboa. Com mais bichos, barulho, lixo e confusão. Submeti-me a três ou quatro sessões do programa. E apesar de gostar de esquilos, não quis ficar com o QI de um. Decidi parar. Não queria que viessem dar comigo agarrado ao sofá a salivar pelo canto da boca em estado semicomatoso. Não seria bonito e sujava as almofadas novas. Já me tinham avisado, e passo a citar, pedindo desculpa pela rudeza do meu amigo: "nunca tinha visto tanto atrasado mental junto no mesmo espaço físico, e todos na minha televisão". "Deve ser esse o segredo" - respondi-lhe. "No fundo é uma reunião de retardados anónimos e eles não fazem a menor ideia". Mas São Tomé fez-me esperar pelo especial da noite com a menina Poeiras e o mini Bettencourt dos cabelos alourados - ou "Dr. Granger" - como lhe chamou Pedro Santana Lopes num comício. E sou obrigado a discordar quando Júla Pinheiro diz que aquele conjunto de indivíduos é o retrato do país. Em primeiro lugar, o país é habitado por pessoas que na sua maioria fala português (coisa que ali não vi). Conseguindo por isso manter uma conversa durante dois minutos sem que 95% do que lhes sai da boca seja mer&#. Duas esfregonas villeda a falarem entre si comparadas com esta rapaziada parecem Sir. W. Churchill e F. Roosevelt em amena cavaqueira num banco da New Bond Street. Refeições inteiras de óculos escuros e boné na cabeça. Chimpanzés e galinhas com o cio. O aldeão de serviço. Choradeira como tivesse morrido um familiar porque acabou o tabaco ou porque o não sei quantos foi expulso ("como é que o gajo se chamava? ele cheirava tão mal...porra"). Uma "senhorita" não sabia o significado da palavra "celibato" (porque será?). Outra abordou um colega da casa e saiu-se com um ternurento... "vou-me peidar". Sintomático. Não optou pela tradicional bufa, utilizou o chavão hardcore do mundo da flatulência. Bonita educação. Qualidade televisiva. Por estas e por outras Sra. Júlia, e por muito que queira, esta casa não é retrato de país algum. É um grupo bastante "rasca" escolhido a dedo num casting onde estou certo que Vexa participou, que garante a boçalidade, pobreza de espírito, ignorância, conflito, sexo explícito fruto de paixões assolapadas de cinco minutos e se possível verborreia, insultos, polémica e pontapés que caracterizam este género de programas imbecis. Num ponto concordamos: infelizmente o país gosta de ver. É só espreitar as audiências. Nem por isso passa a ser o país. Eu também gosto de ver um bom jogo de râguebi e não faço "placagens" aos vizinhos quando me cruzo com eles no hall do prédio. Ou desato a gasear com ou sem pré-aviso quem viaja comigo no elevador. A estupidez também é entretenimento. E a TVI sabe disso.
(Tiago Mesquita)
Expresso
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